Entrevista com o Sr. Alberto Garcia do Canil Municipal de Sintra

  No dia 9 de Março, dirigimos-nos ao Canil Municipal de Sintra, para a realização de uma entrevista com o Sr. Alberto Garcia, que trabalha no canil municipal de Sintra e que nos fez perceber melhor o funcionamento de um canil municipal.


Qual é a diferença entre o canil de uma associação zoófila e um canil municipal?

  O centro de recolha oficial é a resposta do estado para a captura de animais errantes, ou seja, os animais que estão na via pública. É diferente de uma associação, porque as associações promovem a questão do bem-estar animal e das adopções e este canil tem por obrigação a recolha, por questões de saúde pública, de bem-estar animal, de profilaxia de doenças que possam ser transmitidas ao Homem, por questões de segurança, nós somos a única entidade com competência para fazer capturas na via pública.
  Quando alguém entrega um animal aqui nós temos de o receber e temos de dar resposta a esse tipo de situações. A questão da associação é uma questão completamente diferente, é gerido por padrões que são instituídos pela própria associação e que é diferente do canil municipal. O canil é diferente de uma associação, por lei os cães entram aqui, são capturados, têm um período de quarentena e no fim desse período de quarentena passam a ser propriedade da câmara, ou seja, cujo destino é determinado pelo médico-veterinário municipal. Podem ter como destino o encaminhamento para a adopção, a eutanásia, ou seja o abate (que está previsto na lei), depende agora de quem está à frente e de qual a capacidade do canil e de outros factores.
  Nós, no Centro Oficial de Recolha de Animais de Sintra, acreditamos que o abate compulsivo dos animais não é solução para a diminuição e para o controlo do número de animais errantes que temos no nosso concelho. A solução encontra-se noutros factores, tais como, a castração e a esterilização dos animais. Passa também por chamar à atenção para a responsabilização das pessoas, pela adopção responsável, pela identificação dos animais através de micro-chip e passa pela educação das pessoas. Nós tentamos garantir que os animais que entram no canil têm direito a uma segunda oportunidade, desde que se cumpram determinados critérios, que passam por questões de agressividade e de comportamento, se está devidamente socializado, se está em bom estado de saúde.

Quantos cães recebem?

  O número varia muito, mas a quantidade é sempre bastante grande, normalmente entre 50 a 100 animais por mês.

O canil tem capacidade para receber quantos animais?

  Neste momento o canil tem capacidade para 60 a 70 animais, que é insuficiente para dar resposta ao número de animais que nos chegam. O canil que está em construção terá capacidade para mais de 200 animais.

As pessoas aderem muito à adopção?

  As pessoas aderem muito à adopção mas essa é uma situação que tem de ser vista com algum cuidado porque muitas vezes as pessoas não têm noção do que é ter uma animal e que muitas vezes não têm sentido da responsabilidade e implicações de ter um animal. Tentamos fazer um questionário para saber se as pessoas têm mais animais, para onde é que o animal vai, se tem um quintal ou não. Não fornecemos animais para a caça.
  A adopção tem um custo de 12.60 €, que é o preço do micro-chip, fornecido pelo Ministério da Agricultura.
  Além do micro-chip, o animal leva a vacina da raiva e é esterilizado.

Há alguma preferência pela idade, sexo e raça do animal a adoptar?

  As pessoas preferem sempre os cachorros, mas não percebem que um animal adulto aprende da mesma forma. Num animal adulto já sabemos qual é a personalidade do animal e provavelmente já tiveram casa, por isso muitos já estão adaptados a viver com a rotina casa-rua, no caso de um cachorro não sabemos qual é a sua herança genética, se há agressividade nos pais ou não. Um cachorro vai ter de passar por um processo de aprendizagem, vai ter de andar a roer para trocar os dentes, vai precisar de mais atenção e se não for correctamente ensinado a probabilidade de morder alguém no futuro é tão grande como a de um cão adulto morder alguém.
  Os animais que têm um historial de agressividade não são postos para adopção.

Como divulgam as campanhas de adopção?

  Nós estamos permanentemente em campanha de adopção, mas não fazemos campanhas de exterior porque já temos uma associação que faz isso por nós, que leva os animais e os divulga em campanhas de adopção, através de fotografia e da apresentação do próprio animal. Essa associação tem um protocolo com a Câmara Municipal de Sintra.

Além das condições referidas no site do Canil Municipal de Sintra, há mais condições para uma pessoa poder adoptar um animal?

  Temos de saber se as pessoas têm consciência das necessidades básicas dos animais, se reúnem as condições estruturais necessárias para albergar o animal.

Costumam receber muitos animais feridos? Quais são os ferimentos mais usuais?

  Costumamos, principalmente animais atropelados, mas encontramos também animais negligenciados em casa dos seus donos, em estado de subnutrição avançada ou com doenças que poderiam ter sido tratadas.

Os tratamentos efectuados têm bastante sucesso ou existe um grande número de fatalidades?

  Os tratamentos efectuados têm bastante sucesso mas o canil não tem um hospital, por isso se for necessária uma radiografia ou algo que envolva equipamento médico temos de nos dirigir a um veterinário bem equipado ou a um hospital veterinário.

É dispendioso cuidar e tratar dos animais?

  Considerando o número de animais que temos é naturalmente dispendioso, mas é um serviço que tem de ser prestado à comunidade. O orçamento não é nada de exorbitante.

O orçamento fornecido pelo estado ao canil municipal é suficiente para pagar todas as despesas?

  Não é o orçamento que nos desejávamos, mas garante as necessidades básicas, por isso tentamos sempre angariar alguns apoios recorrendo a protocolos com outras entidades e a donativos de materiais.

Quantos funcionários e voluntários têm ao todo a colaborar com o canil?

  Temos cerca de 10 voluntários com tarefas distintas, temos voluntários que trabalham só com gatos e voluntários que trabalham só com cães, voluntários que tiram fotos aos animais, que fazem tudo o que tem a ver com a Internet, que ajudam na limpeza e no tratamento dos animais no terreno.

Recebem muitas inscrições de voluntariado?

  Recebemos mais inscrições do que voluntários, pois muitos deles desistem depois de fazerem a sua inscrição.

Há alguma história em especial sobre algum animal que tenha sido deixado no canil que o tenha marcado?

  Há imensas histórias de bastantes animais que vieram aqui parar, alguns com histórias mais felizes, outros com histórias menos felizes. Tínhamos um cão chamado Oddie, que entrou aqui a pedido da Câmara Municipal de Odivelas, que tinha sido atropelado e só conseguia mexer os olhos. Esteve planeado ele ter sido adormecido por várias vezes, mas conseguiu recuperar a mobilidade nas patas da frente. Conseguiram arranjar um local para ele fazer fisioterapia e fizeram um carrinho para as patas de trás. Apesar do que lhe aconteceu ele faz tudo o que os cães normais fazem, corre, brinca e tem uma energia e vitalidade imensa.

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