Entrevista com a Sra. Maria do Céu Sampaio do Liga Portuguesa do Animal

  No dia 1 de Março realizámos uma entrevista à LPDA e fomos bem recebidos lá. Foi uma conversa agradável e foi uma ajuda essencial para o nosso projecto.


  Em que consiste a vossa actividade?


  A Liga é uma associação de utilidade pública sem fins lucrativos que está devidamente legalizada, tem mesmo um estatuto de utilidade pública, este estatuto é dado a ONG’s (Organizações Não Governamentais) que desenvolvam projectos a nível da comunidade, como seja por exemplo coisas relacionadas com crianças, com idosos, com animais, nas várias vertentes. Nós temos realmente esse estatuto de utilidade pública.
  O que é que nós Liga fazemos? Somos uma associação que trabalha muito sobre a problemática dos animais em geral, nós não trabalhamos especificamente na protecção do gato ou do cão, somos de todos os animais. Nós trabalhamos na área da informação, da sensibilização e da educação. De que forma? Promovendo debates, indo às escolas fazer palestras, fazendo campanhas junto das pessoas no sentido de as sensibilizar, precisamente para o respeito que devem ter por todos os seres vivos, este é o nosso trabalho. Depois temos uma área jurídica, esta área jurídica trata de maus tratos em animais, nas várias vertentes, no que diz respeito aos animais de companhia, animais para a nossa alimentação, experimentação animal, todas essas vertentes. Depois temos uma outra vertente que é específica sobre os animais de companhia, o que é que a Liga faz em relação aos animais de companhia? Nós temos um serviço de telefone que funciona todos os dias, de segunda à sexta-feira, e onde recebemos aqui queixas das mais variadas, ou porque há maus tratos a animas, ou porque um animal se perdeu, ou porque um animal foi mal tratado e depois daqui nós dependendo do assunto encaminhamos as pessoas para o que devem fazer. Se for por exemplo casos relacionados com animais presos, maltratados em qualquer local, que não seja um local público, que não se tem acesso, nós tentamos que as pessoas contactem o SEPNA (Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente).
  O que é o SEPNA? É a GNR do ambiente, é um corpo da GNR que trabalha especificamente em Portugal, nas várias vertentes (tal como nós) do ambiente, as florestas, os animais (de companhia, para consumo, …), por conseguinte nós não somos entidade que possamos entrevir directamente, por isso canalizamos as pessoas, ou nós próprios nos dirigimos a esta entidade (SEPNA), para tratar dos maus tratos a animais. O SEPNA é de âmbito nacional e tem uma parte de intervenção, junto das populações ou para aplicação de multas, de coimas, para inclusivamente poder, com outras entidades, retirar animais, se for caso disso.
  Nós aqui somos um veículo de formação para depois canalizarmos os assuntos para as entidades que podem mesmo actuar. Além disso temos uma outra vertente que é a parte da legislação. A nível desta nós temos tido intervenção na feitura da legislação que existe quer a nível do Parlamento Nacional, com os deputados, quer a nível internacional. A nível internacional nós representamos, em Portugal, um departamento chamado Eurogroup for Animal Welfare, que esta sedeado em Bruxelas, e que é a entidade que está sediada dentro do Parlamento Europeu e na União Europeia na área do ambiente, e em tudo o que seja relacionado com os animais. A Liga faz o que for necessário fazer como força de pressão, por exemplo campanhas contra os animais em transporte de longo curso, junto da população, intervenções junto do nosso governo, do ministério da agricultura, para os tornar sensíveis de forma a aprovarem a legislação.
  Nós apoiamos algumas organizações, ou seja, há duas firmas que têm um protocolo connosco, em que quando há grandes quantidades de comida e esta não chega a ir para os supermercados ou que se estraga durante o transporte, esta comida pode ser dada à nossa instituição e dentro do nosso critério de necessidades das associações que connosco colaboram, nós distribuímos por associações que tenham canis, neste momento a Liga não tem canil nem gatil, até porque não é essa a nossa função.
  Neste momento há uma associação que se chama AMIAMA (Associação dos Amigos dos Animais da Amadora), a qual tomamos conta, ainda não se sabe se é definitivo ou temporário, a associação ficou sem direcção e em muito más condições. Foi feita uma assembleia-geral com os poucos sócios que a associação tinha e ficámos nós a gerir essa associação. Temos estado a fazer obras dentro do possível, a recuperar canis, e é assim canalizada a comida que nos chega mais para essa associação, uma vez que é a que está mais necessitada.


  A associação costuma receber muitas queixas relacionadas com os cães?


  Recebo muitas queixas todos os dias, queixas de animais que estão abandonados nas varandas, fechados em casa onde as pessoas só os visitam de vez em quando, pessoas que maltratam animais, queixas de pessoas que os donos se separaram e deixaram o animal sozinho em casa. Tentamos resolve-las da forma que podemos, se podermos ter intervenção directa, contactamos as pessoas, fazemos uma abordagem para saber o que é que leva àquela situação e tentamos, sem recriminações, sensibilizar as pessoas para o estado do animal. Às vezes as pessoas têm fracos recursos económicos e nós ajudámo-los contribuindo com casotas com comer para o animal, com vacinação, esterilização das cadelas, por exemplo.


  Que tipo de relacionamento têm com os canis?


  Conhecemos quase todos os canis, relacionamo-nos com eles mas a maioria dos canis têm direcção, as quais os gerem e nesses casos a Liga tem pouco intervenção. A nível de canis camarários, já fizemos reuniões com as câmaras de forma a sensibilizarmo-los, para tentar que se promovam campanhas de adopção em detrimento do abate de animais, desde norte até sul.


  Recebem fundos do estado?


  Não recebemos qualquer verba do estado, aliás, trabalhamos para o estado, fazemos o trabalho que lhe compete, de protecção dos animais de pessoas desfavorecidas que não podem levar um animal ao veterinário porque não têm dinheiro. Alimentar um animal é uma necessidade, não é um luxo. Um animal para existir tem de ter no mínimo condições de higiene, de alimentação e de saúde (serviços veterinários). Quer a alimentação dos cães, quer o tratamento nos veterinários, paga a taxa de IVA mais alta (23%). Na nossa legislação, um animal é considerado como uma coisa pertencente a alguém e como é uma coisa pertencente a alguém, esse alguém tem obrigações para com esse animal e se o têm é porque o quer ter, esta é a interpretação da lei. As pessoas tinham um animal porque o queriam ter, hoje está cientificamente provado que um animal como o cão, o gato ou o cavalo têm uma importância muitíssimo grande para o ser humano no que concerne à companhia, a questões psicológicas, a questões de recuperação de crianças com problemas e de idosos.


  Acham que a nossa sociedade está a par do que se passa com os cães, como os maus tratos e o abandono?


  Quando é o próprio dono a tratar mal o cão na rua, e há uma queixa telefónica de outra pessoa, não há nada a fazer. Só em casos mesmo graves e com testemunhas que afirmem que viram o sucedido e que saibam quem são as pessoas que maltrataram o animal. Temos muitas queixas de pessoas que afirmam que não trazem os cães à rua, ou que o deixam presos numa varanda, a cheirar mal, com dejectos espalhados. Nesse caso tem de haver sempre uma intervenção do Delegado de Saúde e da Câmara Municipal, porque tem de ser sempre o médico veterinário da Câmara Municipal da localidade onde isso se passa, acompanhado do delegado de saúde, que tem de ir resolver esse problema. Tem de ir falar com o dono do animal, de forma a garantir que sejam criadas as condições para que se possa manter o animal. Caso não hajam condições para manter o animal, este é retirado podendo ir para a Câmara Municipal, onde é abatido ou onde pode arranjar um novo dono.


  Que tipo de voluntariado têm na Liga?


  O voluntariado que temos na Liga é um voluntariado constituído, por exemplo, por pessoas que tenham tempo para actualizar o nosso site, para trabalhar no Facebook, para ajudar nas campanhas de adopção de animais que fazemos em parceria com a AMIAMA ou com outras associações, nas campanhas que fazemos juntos das escolas, em exposições ou nas actividades do Dia Mundial do Animal. As pessoas podem tornar-se voluntárias inscrevendo-se no nosso site.


  A associação tem muitas propostas para voluntariado?


  Já tivemos muito mais voluntários do que temos agora porque antigamente os jovens estavam muito mais vocacionados para o voluntariado e tinham uma mentalidade e uma vontade de grupo diferente.


  A associação tem muitos projectos em mão?


  Temos agora um projecto com a Câmara Municipal de Cascais que consiste em fazer o levantamento de colónias de gatos que existem no concelho de Cascais, onde as pessoas que alimentam os gatos fazem esse levantamento do número de gatos e nós vamos esterilizar e castrar todos esses gatos. Este projecto serve como forma de diminuir o número de gatos errantes. Só falta a confirmação que Câmara Municipal de Cascais nos vai fornecer os consumíveis.


  Como divulgam as vossas campanhas?


  Divulgamos as nossas campanhas através do nosso site, da televisão, da rádio, através da comunicação social.


  Qual foi o projecto mais desafiante que a associação enfrentou?


  Os nossos projectos são bastante trabalhosos, quer sejam apenas nacionais, quer sejam a nível europeu com o Euro Group. Em Portugal temos feito campanhas de sensibilização nas escolas, exposições em centros comerciais com passagens de vídeo, apesar de hoje em dia já não serem feitas tantas porque o número de voluntários é baixo. O número de pedidos para aparecermos em escolas para fazer palestras e exposições é demasiado grande para conseguirmos dar resposta a todos os pedidos. Também temos contribuído para a finalização de cursos em que os alunos escolham a apresentação do seu trabalho relacionado com o tema dos animais.


  Têm tido jovens a estagiar?


  Já temos tido alguns jovens a estagiar cá.


  Que tipo de sócios tem a Liga?


  Existem três tipos de sócios: os que simpatizam com a causa e com a associação e que nos querem ajudar; os sócios que se focam mais nas contrapartidas de se ser sócio e que são nossos sócios porque assim têm acesso à nossa clínica e beneficiam de descontos nesta e existe um pequeno número de sócios que quer ser sócio e ao mesmo tempo voluntário e colaborar no que a Liga faz. Os nossos sócios pagam uma quota anual de 30 €.


  Que tipo de cargos têm na Liga?


  Na Liga temos os voluntários, os funcionários, que têm um ordenado, as pessoas da direcção, que têm o seu emprego e que se reúnem connosco para planear as acções que vamos fazer.

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